29.3.09

TENDÊNCIA LIBERAL RENOVADA PROGRESSISTA

Segundo essa perspectiva teórica de Libâneo, a tendência liberal renovada (ou pragmática) acentua o sentido da cultura como desenvolvimento das aptidões individuais.

Traz como característica a não centralização do ensino na pessoa do professor. O que se torna importante é o desenvolvimento das aptidões que cada um possui e, uma especial adaptação de trabalho em grupo.

A escola continua, dessa forma, a preparar o aluno para assumir seu papel na sociedade, adaptando as necessidades do educando ao meio social, por isso ela deve imitar a vida. Se, na tendência liberal tradicional, a atividade pedagógica estava centrada no professor, na escola renovada progressista, defende-se a idéia de “aprender fazendo”, portanto centrada no aluno, valorizando as tentativas experimentais, a pesquisa, a descoberta, o estudo do meio natural e social, etc, levando em conta os interesses do aluno.

Como pressupostos de aprendizagem, aprender se torna uma atividade de descoberta, é uma auto-aprendizagem, sendo o ambiente apenas um meio estimulador. Só é retido aquilo que se incorpora à atividade do aluno, através da descoberta pessoal; o que é incorporado passa a compor a estrutura cognitiva para ser empregado em novas situações. É a tomada de consciência, segundo Piaget.

No ensino da língua, essas idéias “escolanovistas” não trouxeram maiores conseqüências, pois esbarraram na prática da tendência liberal tradicional.

A função do professor nesta tendência é de investigar o desenvolvimento da capacidade que cada aluno possui, sendo que o professor é amigo e não o conhecedor de tudo. O seu principal papel é fazer e achar fórmulas para que o aluno desenvolva o seu raciocínio. “não há lugar privilegiado para o professor: antes, seu papel é auxiliar o desenvolvimento livre e espontâneo da criança. A disciplina surge de uma tomada de consciência dos limites da vida grupal”. O ensino se torna uma ‘caverna’ desconhecida, aos alunos cabe a função de desvendar os seus mistérios e desafios. A motivação depende de como eles levantam os problemas a serem resolvidos por eles mesmos. Dessa forma a aula se torna sempre uma busca pelo de novo, sempre está visando a novas descobertas dos alunos.

ivan.lima@grupos.com.br


Na segunda grande tendência pedagógica descrita por Libâneo, a PROGRESSISTA, despontam três modelos significativos.

a) Na Tendência Progressista Libertadora, o grande vulto é Paulo Freire, com seu brilhante ideário sobre a Educação Libertadora, o processo dialógico, a problematização do ensino-aprendizagem.

Aí a Psicologia Educacional começa a preocupar-se efetivamente com as noções de autonomia e relações de poder/ autoridade. Os estudos sobre a cognição, no que se refere principalmente à reflexividade e à crítica, ganham corpo. É o primeiro momento em que se pode aplicar à Psicologia da Educação, a seus estudos e práticas, a denominação “histórico-social”. Pode-se destacar, ainda, a valorização das pesquisas e obras brasileiras, em detrimento dos modelos e estudos apenas importados.

b) A Pedagogia Progressista Libertária acentua a conotação política do movimento anterior. São comuns as preocupações com a participação grupal, a análise institucional, os processos de mudança, a inserção efetiva da Educação na prática social.

O psicólogo educacional não pode mais recusar a relação do seu saber com a política. Precisa abandonar, também, certos preconceitos relativos ao diálogo com os programas dos partidos políticos e com outras áreas de conhecimento, como a Sociologia e a Antropologia.

Abrem-se as portas dos “consultórios” nas escolas, passando o psicólogo a participar como um membro a mais do grupo social que transita naquela instituição, como co-gestor do processo decisório comunitário.

c) A Pedagogia Progressista “Crítico-Social dos Conteúdos”, proposta por Libâneo e outros educadores brasileiros, inclui a valorização dos conteúdos do saber sistematizado, mas não inertes como na escola tradicional. Os conteúdos vivos, inseridos na realidade sócio-política, significados humana e socialmente, vêm do confronto entre os saberes erudito e popular, mesclando os processos de continuidade e ruptura.

O psicólogo não tem papel tão significativamente diferente dos dois movimentos anteriormente descritos. Podem-se destacar, no entanto, a preocupação com a interdisciplinaridade na escola e o aprofundamento dos estudos sobre o cognitivismo piagetiano e o sócio-interacionismo de Vygotsky. Esses estudos tomaram corpo no seio da Psicologia da Educação na vaga construtivista da década de 80.

E o quadro que se apresenta hoje à Psicologia da Educação? Haverá uma nova tendência pedagógica em curso? Poderíamos falar em uma Pedagogia Neo-Liberal?

Parece-me que há desafios de incrível atualidade, na realidade brasileira, que precisam de um enfrentamento incisivo por parte da Psicologia da Educação. Sem a pretensão de enumerar todos, dou relevo às mudanças relacionais trazidas pela globalização; aos desafios da informática e da educação à distância; à necessidade de responder à imposição de objetivos e metas educacionais pelo poder central, sem discussão ampliada com os educadores brasileiros; à defesa da escola pública de qualidade, frente à vaga avassaladora das privatizações; ao grande enfrentamento da educação popular, como forma de organização, capacitação e mobilização política da imensa maioria da população brasileira que constituem as classes populares.

A própria constituição da Psicologia da Educação como área de conhecimento e questões políticas bastante atuais, como a do âmbito de atuação do psicopedagogo, mobilizam-nos de forma intensa.

O processo ainda lento de releitura das teorias à luz da realidade brasileira e da produção de pesquisas atuais e de grande valor social ¾ numa época em que as verbas destinadas à pesquisa escasseiam rapidamente ¾, além da definição dos espaços efetivos de atuação na instituição escolar, fazem parte dessa atualidade.

Atualmente é necessário construir coletivamente um perfil de atuação do psicólogo educacional que, fugindo à concepção liberal burguesa e funcionalista das duas ciências, contemple a Educação democraticamente gerida, de qualidade, posicionada política e ideologicamente frente à realidade, rompendo com o imobilismo teórico mediante efetivas ações.

Dessa forma, a Psicologia Educacional existirá verdadeiramente e será reconhecida na realidade brasileira.

Eloiza da Silva Gomes de Oliveira

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