13.12.09

Entrevista

Thomas Armstrong

Com mais de 30 anos de experiência em ensino e consultoria e 13 livros publicados, o norte-americano Thomas Armstrong é considerado hoje uma das maiores autoridades internacionais quando o assunto é inteligência. Não que suas idéias sejam consenso. Muito pelo contrário, Armstrong tornou-se polêmico ao questionar veementemente o diagnóstico de transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH), que considera um mito. Atualmente, tem-se dedicado a pesquisar a inteligência e o desenvolvimento humano com um enfoque mais holístico. Armstrong acaba de lançar dois livros, ainda sem tradução no Brasil: The Best Schools: How Human Development Research Should Inform Educational Practice (As melhores escolas: como a pesquisa sobre desenvolvimento humano deve informar a prática educacional) e The Human Odyssey: Navigating the 12 Stages of Life (A odisséia humana: singrando os doze estágios da vida). No primeiro, diz que precisamos parar de focalizar a atenção em pontuações em testes e no desempenho acadêmico para dar mais atenção a aspectos como compaixão, caráter e criatividade. No segundo, conduz o leitor em uma viagem desde antes do nascimento até a morte e além dela, sugerindo que nossa vida é uma combinação de influências biológicas e espirituais. Nesta entrevista, realizada por e-mail, ele antecipa algumas dessas idéias.

Que tipo de crianças estamos formando com as escolas que temos e que tipo de crianças deveríamos estar formando? Como aproximar essas duas possibilidades?
Estamos formando crianças que consideram a aprendizagem uma coisa chata, e isso está errado, porque aprender é algo emocionante e vivo. Precisamos fazer com que nossas escolas tornem-se lugares de empolgação no aprendizado.
Existe um conjunto de habilidades cognitivas que a escola está deixando de formar que serão necessárias para o cidadão do futuro. Muitas vezes, essas habilidades têm sido formadas fora da escola. Como o senhor vê essa questão?
Eu diria que precisamos de um equilíbrio entre cabeça e coração. Nossos filhos precisam pensar com clareza, mas também sentir, importar-se com os outros e com o mundo em que vivem. Precisamos ser responsáveis e sentir paixão pelo aperfeiçoamento do mundo.
Quais as contribuições que a ciência cognitiva tem trazido para a educação? Como ela nos ajuda a entender melhor o que ocorre no desenvolvimento das crianças?
Acredito que a ciência cognitiva tem apresentado uma tendência a dar excessiva ênfase ao desenvolvimento da mente e negligenciado o coração. Todo pensar, em última análise, tem por origem uma combinação de pensamento e sentimento. A educação, infelizmente, rompe esse vínculo, e a ciência cognitiva apóia essa divisão com sua ênfase em ensinar a "pensar". Mas que tal ensinar também a "se importar"?
A sociedade está vivendo transformações radicais, enquanto a escola mantém-se muito conservadora em suas práticas curriculares. Como encurtar essa distância?
As escolas são uma extensão da sociedade, talvez a parte mais conservadora dela, pois, afinal, uma sociedade que muda suas estruturas educacionais muda a si mesma. Não permitindo a mudança nas escolas, ela está retardando o próprio desenvolvimento como sociedade, mesmo que exteriormente pareça estar transformando-se. A ironia é que cabe à sociedade decidir mudar em primeiro lugar, e então as escolas vão mudar. Na verdade, vivemos uma época bastante conservadora, e não tão transformadora quanto as pessoas podem pensar. O capitalismo reina supremo, e o pensamento capitalista exige que as pessoas sempre acreditem que estão mudando para melhor, ou seja, tendo cada vez mais lucro. Portanto, em parte, acho que fomos induzidos a pensar, por todas as reuniões corporativas e anúncios nos meios de comunicação, que estamos mudando. Na realidade, estamos presos a formas materialistas de pensar e de ser muito fixas, e as escolas são apenas reflexo disso. Recordo-me da década de 1960, quando nossa sociedade estava mudando bastante, com as manifestações contra a guerra do Vietnã, por exemplo. Nossas escolas eram lugares vitais, transformadores. Hoje, as escolas nos Estados Unidos transformaram-se em lugares muito conservadores - terrivelmente conservadores. Contudo, se pudermos provocar mudanças nas escolas, isso também poderá ajudar a transformar a sociedade.
Como o currículo pode atender às novas necessidades que a sociedade impõe?
Quaisquer que sejam as transformações que estejam ocorrendo na sociedade, nossos filhos herdaram a capacidade de se adaptar às mais variadas situações - este é seu gênio. Precisamos reconhecer e preservar esses elementos de gênio neles - curiosidade, criatividade, vivacidade, imaginação -, os quais permitirão que lidem com o que quer que lhes reserve o futuro.

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